sábado, 21 de fevereiro de 2009

CARNAVAL CENSURADO

CÃO: Achaste bem que um Magistrado proibisse a expressão de ideias gráficas no Carnaval de Torres Vedras?
PINCHA:
Isto até parece uma censura. Mas já foi, felizmente, «descensurado». E só porque uma cidadã resolveu queixar-se à Justiça dizendo que os conteúdos eram pornográficos! Se essa cidadoa viu as poses das vampiras não viu o atributo do futebolista? Até parece mentira. Ou será que lhe caiu no goto?

CÃO: E o que é que a Justiça tem a ver com isso? Com os gostos ou desgostos de cada um?
PINCHA:
Não sei, mas antigamente a censura também tinha medo que os portugueses se desviassem dos «bons caminhos» exemplificados por Salazar e pelas famílias mais conceituadas da sociedade portuguesa como as do Ballet Rose.

CÃO: Não digas isso, porque o Ballet Rose nunca existiu.
PINCHA:
Já estás como o «eclesiástico» da Argentina que disse que o Holocausto nunca existiu?

CÃO: Viste alguma publicação da época sobre isso? Hitler nunca disse que isso existia!
PINCHA:
Estás e brincar comigo? Além disso, tu não sabes ler e só ouves dizer aquilo que os outros lêem para ti.

CÃO: E o que é que tu dizes?
PINCHA:
Se quiseres, senta-te e ouve com atenção aquilo que vou ler. Até Quirino de Jesus, o principal ideólogo de Salazar, pouco antes de morrer em Abril de1935, escreveu-lhe uma carta, como sempre manuscrita, provavelmente em finais de 1934, onde, entre outras coisas, dizia o seguinte:

“Meu caro amigo
… Um velho leitor de Gustavo Lebon conhece o valor dos mitos e a potência das ideias
místicas. Há 40 anos que li a psicologia das multidões. Quem governa tem de aproveitar todas estas forças e manejar as alavancas do espirito publico, mas é preciso cuidado com o alcançe prático a dar aos mitos para se não cair em ilusão perigosa e não iludir os outros.
Mas eu não tenho que pregar a um convertido.
Se me agrada tudo que crie um pouco de ideal, temo o desenvolvimento excessivo do poder publico que considero útil temporariamente, mas só num tempo curto. A censura é hoje um obstáculo à crítica constructiva. A pretexto de se eliminar a critica demolidora e mal dizente matou-se a critica fiscalizadora, fez-se o silêncio á sombra do qual medram as mediocridades. Já no poder se vê com maus olhos que tratem scientificamente certas questões só porque as conclusões da sciencia se não harmonizam com os prejuizos de quem manda. É o abuso do poder, que não tem
controle. Isto é mal, é vicioso, desvirtua o espirito publico.
Como seria util estabelecer em bases concretas e acomodadas ás forças do pais o código regulador da censura!
Como está é o arbítrio do poder dos pobres homens que perdem noites a ler os jornais e estragá-los m.tas vezes.
Há uma critica constructiva e
moderadora
dos impulsos hitlerianos de certos pequenos despotas.
Construir e moderar seria obra de boa imprensa. Estive dois dias no norte a ver escolas (25 e 26) o por lá encontrei casos que justificam o que acabo de dizer sobre a imprensa.
Muita saúde lhe dê Deus
Quirino de Jesus”

Esta carta pode estar datada de 1934 e parecer de 1937 porque não é difícil confundir um 4 mal feito com um 7. A transcrição é da página 101 do livro Cartas e Relatórios de Quirino de Jesus a Oliveira Salazar, publicado em Março de 1887, pela Comissão do Livro Negro Sobre o Regime Fascista, da Presidência do Conselho de Ministros.
Como Quirino de Jesus morreu em Abril de 1935, provavelmente, ninguém mais deu conselhos, pelo menos semelhantes, ao velho «ditadorzinho» que nunca mais descalçou as botas.

2 comentários:

Anónimo disse...

Li com curiosidade o seu novo post que me pareceu interessante. Se hover oportunidade terei gosto em dizer mais qualquer coisa sobre o assunto ou comentá-lo no meu blog psicologiaparaque.blogspot.com

Anónimo disse...

Há anos, um TRABALHADOR-MOR «encerrou» o Carnaval da Terça-Feira. Vamos ver o que acontece este ano e esperemos que esse TRABALHADOR-MOR vá trabalhar.