domingo, 26 de outubro de 2008

A COERÊNCIA

CÃO: Já não te via desde ontem quando me afastei para ouvir Marques Mendes.
PINCHA:
Não gostaste da entrevista?

CÃO: Afinal não era na Grande Entrevista com Judite Sousa.
PINCHA:
Mas dá na mesma.

CÃO: O que eles querem é aparecer na televisão!
PINCHA:
Bom! Vem aí discurso. Vamos aproveitar a sombra desta árvore e o sol quentinho à volta para eu ficar sentado e não me cansar. Tu deitas-te à minha frente e vais falando. Senão, podem julgar que me queres morder.

CÃO: Fiquei desiludido com o que ouvi.
PINCHA:
É assim tão grave?

CÃO: Falam em coerência. De quem? Há anos quando Cavaco Silva disse que não governava sem maioria absoluta não era chantagem. Por isso, tu votaste a primeira vez nele, em benefício de dúvida mas, passado um ano, arrependeste-te. Agora que o Sócrates diz apenas que é difícil governar sem maioria absoluta, é pressão e até pode ser chantagem dentro de pouco tempo.
Quando a Manuela Ferreira Leite fez os contratos milionários com «directores-gerais», era competência; agora, deve ser despotismo ou favoritismo. Em qualquer dos governos, os nossos directores-gerais foram incompetentes? Quem é que os escolheu e promoveu? Porque é que não os mandaram embora se não prestam? Talvez alguns até agradeçam!
No tempo antigo, as Obras Públicas eram um motor de progresso; agora, são um desperdício e despesismo. Desde que bem pensadas e ponderadas até podem servir para melhorar a economia. A ponte Vasco da Gama e os automobilistas que o digam.
O descalabro da economia começou há muitos anos, com muitas miragens e ilusões: até iríamos ter dentro de quatro anos, ou pouco mais, vencimentos iguaizinhos aos da Europa! Qual delas? Nem da Espanha! E já passaram uns bons 23 anos, com 2 PSD completos e insatisfeitos, 2 PS dos quais o segundo a caminhar para o pântano, 1 PSD bate e foge para Bruxelas com a estrela das Finanças a fazer milagres, 1 PSD pontapé no rabo e, agora, 1 PS, desde 2005, o único que conseguiu que não nos afundássemos tanto como dantes embora com o «cinto apertado». Não te lembras? Eu lembro-me perfeitamente disso tudo.
PINCHA:
Lembro-me também da mirabolante Manuela Ferreira Leite no Governo do Barroso! Ela quererá repetir agora a proeza de tirar coelhos da cartola ou julgará que somos todos parvos?

CÃO: Aparece agora o fantasioso Marques Mendes a «largar bocas» e dizer aquilo que os outros devem fazer para melhorar Portugal. Porquê é que não fez com que os deputados e outros políticos se reformassem com o mesmo tempo dos outros desgraçados? Sabe-lhe bem a reforma com tão pouco tempo na política? São obrigados a aceitar os cargos ou são eles que se engalfinham para chegarem ao poder? Porquê é que esses «sacrificados» continuam como dinossauros durante décadas, se a vida política é tão má? O que fez ele durante a eternidade em que esteve no governo?
PINCHA:
Sacrifício pelo povo!

CÃO: Povo de quem? Nosso ou dele?
PINCHA:
Não sejas má língua. O povo é todo o mesmo. Só «calça» gravatas diferentes.

CÃO: No futuro, quem pensas apoiar? Tu arranjas melhor do que aquilo que já tens?
PINCHA:
De facto, entre a bolsa e a vida o que é que escolheria? E tu, o que dizes? Onde está a coerência?

CÃO: O que queres saber? Se gostei do que ouvi?
PINCHA:
Afinal…

CÃO: A única coerência que eu vejo aqui é o comportamento do Sócrates com o Cavaco e vice-versa: respeitam-se e colaboram para «não piorar» a situação que muito mal nos foi deixada pelos que falaram muito e fizeram pouco. Até Cavaco. Por isso, estou admiradíssimo com ele!
PINCHA:
Oxalá que agora haja melhoria da situação e não seja apenas eleitoralismo.

CÃO: E vais votar em quem?
PINCHA:
Já não estou na idade de assistir aos malabarismos e prestidigitações. Se as coisas estão menos mal, pelo menos deixa-as estar assim. Pelo menos isso!

1 comentário:

Anónimo disse...

A coerência está em compreendermos que quase todos os políticos são feitos da mesma massa e votarmos no «menos pior». Se deixarmos de votar, o «mais pior» pode vencer e conseguir ser outro «Botas».
Mais 50 anos não!